Nos próximos cinco a dez anos, a transformação digital será um requisito para se ser competitivo no mercado. As aquisições autónomas serão um dos pilares básicos para promover esta transição digital e ferramentas como a Inteligência Artificial (IA) ajudam a abrir o caminho.
O cientista informático Alan Kay resumiu o espírito de inovação nesta frase: “A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.”. O mesmo acontece com a compra autónoma: é necessário criá-la e ter todas as ferramentas ao seu alcance para garantir o seu sucesso.
Alguns estão a anunciar o fim das “compras tradicionais” com o advento da inovação, mas, como disse Klay, se queremos saber o que o futuro nos reserva para as compras, cabe a todos nós criar esse futuro.
No processo evolutivo da função de compra, os profissionais de compras têm uma decisão a tomar: Contentam-se com uma ferramenta de redução de custos ou vão mais longe? Embora a redução de custos seja sempre uma parte fundamental da aquisição, é importante considerar outras opções para uma estratégia empresarial bem-sucedida que não se baseie apenas nos custos.
O objetivo, para além de poupar, é automatizar todas as tarefas repetitivas e não críticas, bem como apoiar os profissionais em tarefas estratégicas através de análises avançadas, previsões e recomendações. Isto permite dedicar mais tempo à estratégia, às negociações e às relações com fornecedores ou outras atividades que acrescentem valor. Para tal, o departamento de compras poderá contar com a ajuda de tecnologias avançadas, tais como a Inteligência Artificial.
Ajudar – não substituir – o ser humano
Em geral, a IA é definida como uma tecnologia concebida para tomar decisões cognitivas e executar tarefas em pé de igualdade com um ser humano. Abrange aspetos como o processamento de linguagem natural, aprendizagem automática, redes neuronais e modelos estatísticos para análise de tendências, deteção de anomalias, análise preditiva, entre outros.
Apesar de todas estas mais valias, este é um conceito rodeado de desinformação, pelo que, o primeiro passo é desmistificar as alegações erradas sobre a IA.
Por exemplo, a narrativa que pressupõe que irá eliminar postos de trabalho não se verifica. É possível que a metodologia de trabalho mude e que seja necessário adquirir novas competências, mas as compras autónomas e a IA não são concebidas para funcionar sem pessoas. É, por este motivo, importante repensar a simbiose entre a tecnologia e o humano, para que possamos trabalhar mais estrategicamente do que taticamente.
Também existe a ideia de que a IA garante 100% de precisão. Nenhuma tecnologia pode garantir a perfeição. Pode chegar perto, mas nunca a 100%. É por isso que o futuro reside no fator humano combinado com a IA.
Em torno da possível padronização, importa realçar que nenhuma plataforma de software pode abordar todos os casos de utilização em todos os domínios verticais e comerciais sem personalização. Cada empresa tem as suas próprias exigências, que precisam de ser tratadas de forma diferente.
Por último, é falso afirmar que tal tecnologia não necessite de manutenção. Os sistemas de IA requerem aprendizagem contínua a partir do feedback humano, uma interpretação limpa dos dados, reconhecimento e ajustamento dos padrões, e um mecanismo de revisão contínua para assegurar que os dados não sofreram alterações significativas, e que o sistema está a corresponder às expectativas.
Atualmente, as utilizações da Inteligência Artificial no processo de aquisições ainda são consideradas um “nicho” porque ainda não existe um fornecedor que possa suportar todo o processo de ponta a ponta que a compra autónoma exige. Contudo, a IA já pode ser aplicada a análises aumentadas e visualização ou previsão de dados, entre outras utilizações.
Daqui a dois ou três anos, a IA continuará a ser integrada em todas as soluções acima referidas, com capacidades cognitivas melhoradas e aplicadas ao ciclo completo da função de compras e a muitas outras áreas. Por outras palavras, o sistema será capaz de pensar por si próprio, aprender ao longo do tempo e melhorar a rotina diária dos processos.
A Inteligência Artificial está preparada para acelerar a inevitável viagem em direção à digitalização de todos os processos empresariais. Mas a compra autónoma não vai acontecer da noite para o dia, a verdadeira mudança acontece no dia-a-dia. Idealmente, começa com a construção de uma base de dados, formação de equipas, adoção de novas tecnologias e reavaliação do plano a longo prazo.
A automatização, as aplicações cognitivas, a análise avançada e os casos de uso prático da IA estão ao nosso alcance, mas temos de trabalhar para tornar real o objetivo de atingir a verdadeira transformação digital.
PorCarlos Tur
Country Manager da JAGGAER para Espanha e Portugal