O transporte colaborativo como resposta aos desafios no setor logístico

O setor da logística enfrenta uma conjuntura complexa e exigente, caracterizada pela instabilidade geopolítica e pela inflação, pela falta de mão de obra qualificada e por uma pressão sobre os ganhos de sustentabilidade das empresas, em contraponto com uma procura crescente por soluções logísticas eficientes, capazes de responder a todos os desafios evidenciados. Nestas mutações contínuas, nas crises e disrupções que assombram o setor, o transporte colaborativo pode surgir como um verdadeiro aliado.

Há cada vez mais organizações que procuram soluções logísticas que sejam eficientes e que garantam que a componente da sustentabilidade não é esquecida, uma vez que existe uma pressão para diminuírem as suas emissões de CO₂, algo já previsto pelo Regime de Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE) da União Europeia que exige que possuam licenças de autorização por cada tonelada de CO₂ que emitam.

Por outro lado, entre os vários desafios que este setor enfrenta, a falta de motoristas é um dos mais críticos. Sem eles, as mercadorias não chegam às lineares dos supermercados e os bens de primeira necessidade não ficam assegurados, pelo que urge uma reflexão, pois se nada for feito, o futuro poderá ser incerto, sem garantias de que existam motoristas suficientes para manter a cadeia de abastecimento a funcionar de forma eficiente.

Este não é um cenário assim tão distante ou hipotético. Podemos retomar até 2008 quando os camiões de transportes de mercadorias se revoltaram contra o aumento do preço dos combustíveis e pararam em vários pontos de Portugal, ou até ao ano de 2021 quando o bloqueio de um navio no Canal do Suez paralisou 12% do comércio mundial durante uma semana, provocando atrasos na entrega de produtos, com repercussões imediatas para os clientes finais.

Face a estes desafios, é urgente encontrar soluções. Neste sentido, a logística colaborativa pode surgir como uma resposta eficaz, com inúmeras vantagens tanto para empresas como para a resiliência das cadeias de abastecimento. Para além de reduzir o número de viagens e otimizar os fluxos colaborativos, o transporte colaborativo pode ser complementado pela implementação de soluções mais sustentáveis, como a utilização de camiões movidos a combustíveis alternativos mais ecológicos, como HVO, GPL e EVs, bem como pela aposta no transporte intermodal para fluxos internacionais. Estas estratégias não só contribuem para a redução da pegada de carbono e para o cumprimento das metas ambientais, como também reforçam a responsabilidade social corporativa. A colaboração entre empresas também favorece a visibilidade da cadeia de abastecimento, possibilitando identificar áreas de melhoria e otimizar processos, e, em momentos de instabilidade como uma crise, permite uma resposta mais ágil e adaptável às mudanças do mercado. Além disso, o transporte colaborativo contribui para o fortalecimento das relações comerciais, promovendo a cooperação entre as empresas, que trabalham juntas para alcançar objetivos comuns e construir confiança mútua. Adicionalmente, esta abordagem permite tornar as cadeias de abastecimento mais resilientes, reduzindo as interrupções e garantindo um fluxo logístico mais eficiente e sustentável.

A partilha de recursos nas soluções logísticas permite, ainda, poupanças financeiras significativas. A otimização de rotas, a utilização conjunta de infraestruturas e a adoção de tecnologias mais eficientes reduzem custos operacionais, tornando estas estratégias vantajosas tanto do ponto de vista ambiental como económico.

Diante desafios como a escassez de mão de obra, a pressão ambiental e a necessidade de maior eficiência, a adoção de soluções colaborativas ganha cada vez mais relevância, surgindo não apenas como uma alternativa viável, mas também como um caminho essencial para garantir um abastecimento da cadeia abastecimento mais resiliente e sustentável. Apostar em modelos colaborativos significa transformar desafios em oportunidades, promovendo um setor mais ágil, eficiente e preparado para o futuro.

 

Fontes:

https://www.europarl.europa.eu/topics/pt/article/20180305STO99003/reducao-das-emissoes-de-carbono-metas-e-politicas-da-ue
https://www.rangel.com/pt/blog/logistica-colaborativa-reduzir-custos/

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