Talento em IA é “desigualmente” distribuído entre indústrias e nações

A falta de competências digitais está a aumentar a clivagem entre os países de altos rendimentos e o resto do mundo. A conclusão é do Global Talent Competitiveness Index (GTCI) 2020, desenvolvido pelo grupo Adecco em parceria com o INSEAD e a Google, apresentado no Fórum Económico Mundial em Davos que está a decorrer esta semana na Suíça.

Este estudo revela que a Suíça continua a liderar o mundo em competitividade de talentos, seguida pelos Estados Unidos e Singapura. Já Portugal mantém a 28ª posição no ranking de 132 países e Lisboa ocupa a 62ª posição no ranking das 155 cidades com uma pontuação de 46.2 tendo descido acentuadamente (em 2019 ocupava a 45ª posição).

Segundo o relatório, o talento em Inteligência Artificial (IA) é particularmente escasso e desigualmente distribuído entre indústrias, sectores e nações. Refere ser “urgente” fazer uma requalificação geral para desenvolver “competências de fusão” que permitem que humanos e máquinas interajam de maneira eficaz e eficiente em atividades híbridas.

Neste contexto, o grupo Adecco comprometeu-se a formar e a reciclar cinco milhões de pessoas até 2030. «O impulso de capacitação será liderado pelo braço de formação e desenvolvimento do Grupo, o General Assembly, especializado em dotar indivíduos e equipas com as competências digitais mais requisitadas da atualidade, incluindo ciência de dados, codificação e capacidades de aprendizagem de automação», segundo o grupo.

Sobre o Índice 2020, o CEO do grupo Adecco, Alain Dehaze, afirmou: «À medida que máquinas e algoritmos continuam a afectar uma multiplicidade de tarefas e responsabilidades e quase todos os trabalhos são reinventados, ter o talento certo nunca foi tão crítico. Hoje, robôs e algoritmos viajaram para além do nível fabril e estão a funcionar na frente das casas, no back-office e nas sedes das empresas. Em todos os níveis, os trabalhadores precisam de formação para aprimorar “capacidades humanas” por excelência – adaptabilidade, inteligência social, comunicação, resolução de problemas e liderança – que complementarão a tecnologia». Esta década, o responsável considera que será caracterizada por «uma revolução de requalificação com foco nas competências de fusão’ – permitindo que humanos e máquinas trabalhem em harmonia num modelo híbrido».

 

Talento global na era da IA

O tema central do relatório GTCI 2020 é o talento global na era da IA. Notavelmente, o relatório constata que mais da metade da população no mundo em desenvolvimento não possui competências digitais básicas e que a lacuna de competências digitais está apenas a aumentar, com alguns países a progredirem muito rapidamente, enquanto a maioria do mundo em desenvolvimento fica para trás.

A Adecco adianta que novas abordagens estão a ser testadas e experimentadas para encontrar o equilíbrio ideal, onde pessoas e tecnologia podem trabalhar lado a lado e prosperar no local de trabalho do futuro. «À medida que essas novas colaborações continuam a ser desenvolvidas, a competitividade global de talentos está a ser redefinida, com as nações a esforçarem-se para ficarem posicionadas como líderes da revolução da IA. Embora a lacuna de competências digitais seja significativa e continue a aumentar, a análise do relatório constatou que a IA poderia oferecer oportunidades significativas para os mercados emergentes “ultrapassarem”.»

Por exemplo, e de acordo com o relatório, «as análises longitudinais da competitividade de talentos revelam que alguns países em desenvolvimento, como a China, a Costa Rica e a Malásia, têm o potencial de tornarem-se ‘campeões de talentos’ nas suas respetivas regiões. Enquanto isso, outros países como o Gana e a Índia aprimoraram as suas capacidades de desenvolver, atrair, crescer e reter talentos nos últimos anos, conquistando o status de “movedores de talentos”.»

Olhando para as cidades, Nova Iorque lidera o ranking este ano, seguida por Londres, Cidade de Singapura, São Francisco e Boston. A posição de liderança de Nova Iorque pode ser atribuída ao seu «forte desempenho» em quatro dos cinco pilares medidos na pesquisa, especificamente nas categorias “Enable”, “Attract”, “Grow” e “Global Knowledge Skills”.

Geralmente, «as cidades com uma capacidade comprovada de “disponibilidade futura” têm uma classificação alta, com atividades em áreas como IA, fintech e medtech, favorecendo o desempenho de talentos dos cinco primeiros. Muitas cidades estão cada vez mais a experimentarem novas ferramentas baseadas em IA, como reconhecimento facial, videovigilância e veículos autónomos. O sucesso varia entre as cidades, mas aqueles que se saem bem surgirão como hubs de IA com o pool de talentos para implementar, de forma sustentável, soluções globais», adianta o relatório.

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