Os desafios da Logística na nova Era do trabalho

Durante demasiado tempo, a logística foi encarada como uma função de bastidores — essencial, mas discreta. Hoje, essa perceção está ultrapassada. A logística tornou-se um eixo estratégico das organizações, com impacto direto na experiência do cliente, na eficiência operacional e na capacidade de adaptação ao imprevisível. E à medida que o setor se moderniza, cresce também o desafio de encontrar o talento certo para acompanhar esta transformação.

De acordo com o Guia Salarial 2025 da Adecco Portugal, os cargos mais valorizados incluem funções como Supply Chain Manager, Responsável de Compras e Responsável de Logística, com salários que podem atingir os 70.000€/ano em Lisboa e os 55.000€/ano no Porto. Estas funções exigem uma visão integrada da cadeia de valor e competências em liderança, negociação e análise estratégica. Mas o verdadeiro ponto de tensão está nas funções intermédias e operacionais — onde escassez e a rotatividade caminham lado a lado.

Perfis como Planeadores de Produção, Técnicos de Logística ou Gestores de Armazém são hoje cada vez mais difíceis de encontrar. Já nos níveis mais operacionais — operadores de armazém, preparadores de encomendas, conferentes — os desafios são ainda maiores. A elevada rotatividade, aliada à perceção de desvalorização destas funções, torna o recrutamento uma corrida constante. E num setor que depende de fiabilidade e ritmo, cada vaga por preencher tem impacto real na operação.

A digitalização veio acelerar esta mudança. Tecnologias como WMS, RFID ou plataformas de tracking em tempo real exigem profissionais com novas capacidades técnicas. Não se trata apenas de executar, mas de interpretar dados, tomar decisões rápidas e de trabalhar em ambientes cada vez mais automatizados. O perfil do talento logístico evoluiu — e a oferta de profissionais preparados ainda não está a acompanhar essa exigência.

A resposta está, em grande parte, na forma como o setor gere o seu próprio futuro. Investir em formação contínua, requalificar perfis internos, criar sistemas de progressão claros e construir uma reputação enquanto setor de futuro são hoje prioridades incontornáveis. Porque o talento não se atrai apenas com salário. Atrai-se com propósito, com cultura e com uma proposta de valor realista e diferenciadora.

A logística precisa de se ‘contar’ melhor. Precisa de se mostrar como uma área onde a inovação tecnológica e a ação concreta convivem. Onde há espaço para crescer, aprender e contribuir para algo maior do que a função individual. Só assim será possível captar uma nova geração de profissionais — que procuram não só um emprego, mas um papel com impacto.

O que move a logística são dados, fluxos e sistemas. Mas no centro de tudo estão, uma vez mais, as pessoas. São elas que garantem que o setor avança de forma única, mesmo nos momentos mais exigentes. E é nelas que reside o verdadeiro motor de competitividade, para um setor que não pode parar.

 

Bernardo Samuel, Diretor da Adecco Recruitment Portugal

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