Impacto da guerra nas cadeias de abastecimento: o efeito dominó

Estamos perante uma guerra entre dois países que está a afetar todo o mundo. Não querendo entrar por um discurso derrotista, este é um conflito que terá um impacto negativo a nível global: desde o combustível até ao comércio, cadeias de abastecimento, economia e tecnologia.
Se antes se previa que o mercado automóvel, por exemplo, iria regressar aos níveis pré-pandemia dentro de dois ou três anos, neste momento esta previsão prolonga-se ainda mais anos, não havendo uma previsão de melhoria. De facto, se a escassez de materiais e a instabilidade das cadeias de abastecimento já se faziam sentir durante este período, apesar de ter havido uma ligeira melhoria nos últimos meses, neste momento o cenário está pior do que nunca e não se prevê que melhore tão cedo.
Assim, tendo em conta o cenário atual, quais as previsões para os próximos tempos? É preciso ter em consideração que a Rússia é uma das maiores fontes de petróleo e gás. Além disso, a Ucrânia é detentora de grande parte da indústria de mão-de-obra intensiva e um dos maiores produtores mundiais de matérias-primas. Posto isto, e tendo em consideração as sanções atualmente impostas, tem havido um aumento gradual dos preços no geral. Trata-se de um “efeito dominó”, em que o aumento do preço dos combustíveis afeta o setor da logística e transporte de matérias-primas que resulta, por sua vez, no aumento dos preços na sua generalidade, mas especialmente no setor industrial. Isto tem obviamente consequências para o abrandamento da economia – investimento e consumo -, sobretudo na Europa. Apesar de ainda haver incerteza quanto ao impacto económico que esta guerra terá, por não haver previsão para o seu fim, a rutura nas cadeias de abastecimento e energia é notável.
Além da crise resultante da escassez de matérias-primas, empresas da área de montagem e construção de diversos países têm demonstrado especial preocupação pelos colaboradores russos e ucranianos, temendo que estes ponham a hipótese de abandonar os seus postos de trabalho para prestar serviço humanitário pela sua nação. Também o facto de haver inúmeros fornecedores e subfornecedores que são detidos parcial ou totalmente por capital russo tem causado alguma inquietação para as empresas, bem como o facto de as deslocações e acessos estarem bastante condicionados para muitas destas que atuam em diferentes países, com equipas multidisciplinares. Esta escassez de matérias-primas e a eventual falta de colaboradores resulta numa dupla crise, bastante prejudicial para as entidades empregadoras.
Assim sendo, põe-se a questão: quais serão as melhores estratégias a adotar perante este cenário de insegurança económica e agravamento na instabilidade das cadeias de abastecimento? E os planos de contingência? De que forma se mapeiam as cadeias de fornecimento? Como podemos antecipar e prever os seus riscos? Apostar em alternativas aos combustíveis fósseis será certamente um caminho, mas, como agir para o amanhã? Sabemos que as principais OEM’s produzem e exportam para a Rússia, que grandes Tier 1 produzem, ou produziam, na Ucrânia, e que todo este conflito vai parar este fluxo de material e informação.
Por isso, como agir enquanto uma transição energética ou ações para evitar esta dependência não estão disponíveis? São estas questões que, atrevo-me a dizer, preocupam atualmente os principais decisores e governantes europeus e mundiais. A resposta? Quem tiver a bola de cristal.
que se atreva a responder

 

Pedro Silva, diretor-geral da OPCO

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