Uma logística farmacêutica à prova de pandemia

A logística farmacêutica vive um dos momentos de maior intensidade, tanto a nível técnico, como operacional. Ao longo deste último ano, a cadeia de abastecimento tem sido valorizada como uma atividade fundamental para garantir os serviços de saúde e o abastecimento eficiente de farmácias e de hospitais.
Desde o início da pandemia, os players da logística farmacêutica têm enfrentado importantes desafios diários para responder às exigências técnicas de cada operação, garantir a distribuição e assegurar a monitorização de cada produto. Embora neste sector estejamos habituados a elevados padrões de qualidade e rigor, num cenário de emergência sanitária como o atual, a coordenação perfeita entre todos os agentes envolvidos no processo tem sido um desafio constante e tem destacado a relevância da logística, o que a tornou, inclusivamente, alvo de interesse público.
A atividade logística em Portugal, e no resto do mundo, demonstrou ser essencial para que todos os outros setores possam continuar a funcionar normalmente, nomeadamente na área da saúde. Fatores como o controlo das temperaturas ou a rastreabilidade são determinantes para um correto abastecimento, cumprindo-se escrupulosamente todos os requisitos técnicos e as boas práticas. Nesse sentido, a experiência acumulada ao longo dos anos e a capacidade de adaptação têm sido vantagens essenciais para responder à pandemia. Em função dos diferentes volumes de atividade, temos sido capazes de adequar os recursos para intensificar a distribuição e continuar a garantir o armazenamento seguro de produtos farmacêuticos.
No entanto, a segurança dos processos da logística farmacêutica exige a perfeição também noutros aspetos. Por um lado, a confirmação da integridade do produto, em que se verifica exaustivamente a sua origem, bem como o cumprimento de todos os controlos e protocolos exigidos a nível europeu. Aqui, contamos com a preciosa ajuda da serialização, com o objetivo de combater a fraude e a falsificação de medicamentos. Por outro lado, uma rastreabilidade abrangente, presente em todas as fases da operação, na qual a transmissão de dados desempenha um papel fundamental.
Ainda que, a nível operacional, o abastecimento farmacêutico tenha sido sempre garantido, a transmissão de informação entre os players do processo continua a ser um desafio. A coordenação da informação é um pilar básico de toda a cadeia, desde a fase prévia de receção dos medicamentos, na qual é fundamental saber quais são os recursos necessário, até que sejam entregues ao seu destinatário final, sejam hospitais, farmácias ou qualquer outra entidade de saúde pública ou privada. Nesse sentido, a pandemia evidenciou a relevância desta coordenação entre operadores logísticos, laboratórios, empresas farmacêuticas, armazenistas, farmácias, hospitais ou outros intervenientes do sector, já que todos temos a obrigação e a responsabilidade de estar à altura das necessidades da população e dos profissionais de saúde.
Neste desafio, o aliado mais poderoso que temos é a tecnologia e todas as possibilidades que ela nos oferece na gestão e no tratamento de dados. A evolução tecnológica tem sido um fator diferenciador para as empresas, mas agora tornou-se um requisito indispensável. As tendências em logística avançam claramente em direção à inovação, com maior integração de Big Data, IoT ou Blockchain, precisamente para que os operadores tenham uma visibilidade completa do estado e das condições dos produtos a todo o momento. Segundo um estudo recente da consultora EY, 52% dos executivos afirmam que a cadeia de abastecimentos será autónoma em 2025, graças, por exemplo, à utilização de robôs nos armazéns e nas oficinas, empilhadores e veículos sem motorista, drones de entrega ou à utilização de um planeamento totalmente automatizado. A pandemia está a levar as empresas a tornar as suas cadeias de abastecimento mais resilientes, colaborativas e digitais.
A verdadeira chave para o futuro continuará a ser, em primeiro lugar, a capacidade de adaptação e, em segundo lugar, a batalha da gestão de dados: unir as informações de todos os agentes da cadeia de abastecimento em tempo real. Temos os recursos ao nosso alcance e contamos com as ferramentas e o talento necessário para tirar o máximo proveito deles. Como operadores logísticos, continuaremos a colocar as nossas capacidades ao serviço do desenvolvimento e da evolução das exigências da nossa sociedade.
Não há dúvida que a logística está preparada para acomodar grandes volumes de medicamentos e distribuí-los em todos os pontos do país. Se este setor mostrou alguma coisa, é que é “à prova de pandemias”.

 

Vitória Nunes, Directora da Unidade de Negócio da ID Logistics em Portugal

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