“Um objectivo sem plano, não passa de um desejo”
Manuel Sousa Antunes, Presidente da Confederação dos Profissionais de Recursos Humanos dos Países de Língua Portuguesa (CRHLP)
Tendo em conta a vivência profissional de 20 anos na área, procurei analisar as ideias descritas nos programas eleitorais dos partidos ditos do “eixo da governação” ao nível de transportes e actividade logística. Fi-lo antes de conhecer o vencedor das eleições e sem qualquer espécie de parcialidade.
A primeira nota de destaque vai para a importância concedida ao sector marítimo-portuário em ambos os programas eleitorais, face à muito propalada posição geográfica nacional. Uns, obviamente, destacam o efectuado nos últimos 4 anos e outros limitam-se a descrever os correspondentes propósitos para a próxima legislatura.
“A talho de foice”, os propósitos apontam no sentido de soluções integradas ao nível portuário, aeroportuário, ferroviário e rodoviário. Decorrida mais uma legislatura, a criação de condições para uma verdadeira intermodalidade mantém-se, portanto, na ordem do dia e no âmbito das intenções.
Neste particular, o objectivo de, por exemplo, “instituir um Observatório de preços no sector- frete rodoviário…, que promova transparência no custo da prestação de serviços”, afigura-se-me fundamental.
As intenções para o transporte de passageiros também não foram ignoradas, designadamente ao nível da descentralização de competências na área da mobilidade para as autarquias, aplicação das regras do Passe Social+ em todo o país com mais-valias significativas nos territórios de baixa densidade e criação de novos títulos “que fomentem a mobilidade dos idosos, reformados e pensionistas, bem como das crianças e jovens”.
Parafraseando Carlos Hilsdorf, “não basta apenas querer. Não basta apenas decidir. É preciso atitude… Muitas pessoas decidem, mas não praticam o que decidiram…”.
Neste contexto, assalta-me à memória o Plano Portugal Logístico, lançado em 2006 pelo Ministério dos Transportes, sob o lema «Nós somos o centro do Atlântico e não a periferia da Europa!», cujo objectivo visava fomentar um novo “paradigma” para o sistema logístico português.
Na ocasião, pretendia-se dotar Portugal de uma rede de 11 plataformas logísticas (urbanas nacionais, portuárias, transfronteiriças e regionais) com um investimento aproximado de dois mil milhões de euros, entre fundos públicos e privados. O processo acabou por apresentar fortes debilidades após a adjudicação das plataformas do Poceirão e da Castanheira do Ribatejo, bem como do abandono pela Somague do projecto Maia-Trofa, alegando falta de rentabilidade e vários problemas na aquisição dos terrenos necessários.
Seguiu-se o PET e, mais recentemente, o Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas(PETI3+).Aqui, destaco a ideia de “concretizar osprojetos rodoviários previstos… com prioridade às conexões lastmile a zonas de forte desenvolvimento industrial” e “a construção da ligação entre as regiões de Coimbra e Viseu…”.
Termino com esperança – sempre! -, mas, qual São Tomé, utilizando a expressão de Saint-Exupéry: “Um objectivo sem plano, não passa de um desejo”.
Manuel Sousa Antunes, Presidente da Confederação dos Profissionais de Recursos Humanos dos Países de Língua Portuguesa (CRHLP)