Relatório revela que sector alimentar enfrenta “disrupção e incerteza”

A pandemia da COVID-19 abalou o sector de retalho alimentar na Europa, causando uma situação de disrupção e incerteza contínuas. Esta é uma das principais conclusões do relatório “O estado da Alimentação: disrupção e incerteza. A situação do retalho alimentar em 2021” (The State of Grocery), preparado pela McKinsey & Company e pela EuroCommerce.

O relatório, baseado num inquérito a 48 executivos do sector alimentar na Europa e a mais de 10.000 consumidores em dez países europeus, oferece uma perspectiva sobre o futuro do sector alimentar em 2021, e analisa o impacto da pandemia na evolução das vendas e nos hábitos dos consumidores.

No que diz respeito às mudanças no retalho alimentar em 2020, o relatório assinala que a pandemia mudou o panorama do sector a «uma velocidade e escala sem precedentes». Esta evolução, principalmente devido às restrições impostas pelas autoridades de diferentes países europeus, afectou tanto os hábitos de consumo como a forma como os consumidores compram os produtos alimentares, levando a um «crescimento drástico» das vendas online. Segundo este estudo, as receitas do sector foram afectadas de forma positiva pela pandemia: durante o primeiro confinamento em março de 2020, as vendas de alimentos na Europa aumentaram 20% em média, e 10% durante todo o ano de 2020. Simultaneamente, devido à pressão nas cadeias de abastecimento e à crescente necessidade de introduzir medidas de higiene adicionais, os custos aumentaram. Também os consumidores alteraram os hábitos de compra de acordo com a evolução dos confinamentos na Europa. Quanto mais restrições, mais trocas de supermercado e mais compras online. No total, 60% dos consumidores optaram por outra superfície de compra de produtos alimentares ou fizeram compras online.

Quanto às perspectivas do sector em 2021, o relatório identifica quatro tendências-chave que moldarão a indústria alimentar nos próximos anos. O estudo explica que o denominador comum das tendências identificadas é o aumento da pressão sobre as margens que os retalhistas alimentares enfrentarão nos próximos anos, juntamente com a necessidade de satisfazer a crescente procura dos consumidores, a pressão sobre os preços e o crescimento do canal de vendas online, até agora pouco rentável e complexo na integração com as estratégias omnicanal.

Segundo a análise da McKinsey & Company e da EuroCommerce, estes seriam os quatro vectores do futuro do sector:

 

Primeira tendência: o estilo de vida impulsiona a procura de alimentos
Em 2021, em toda a Europa, 50% dos consumidores planeiam adaptar os respectivos gastos alimentares para melhor se adequarem aos estilos de vida que têm: com uma tendência que se volta especialmente para os alimentos saudáveis (34% dos consumidores), os produtos regionais e locais (29% dos consumidores) e os produtos ecológicos (23% dos consumidores). Estas novas expectativas são também acompanhadas por uma maior procura por valor e por preços baixos.

Em Portugal, os consumidores destacam-se por uma maior intenção de poupar na compra de alimentos (59% dos consumidores). No que diz respeito aos produtos locais, 37% dos consumidores portugueses preveem aumentar as despesas com produtos regionais. Quanto a opções saudáveis, este ano, 45% dos consumidores em Portugal dizem estar a optar por esta escolha no cesto de compras.

 

Segunda tendência: o valor volta a ser rei
Durante a pandemia, os consumidores gastaram consideravelmente mais em produtos alimentares devido ao encerramento de restaurantes, cafetarias e cantinas nos escritórios. Ao mesmo tempo, o confinamento limitou a capacidade de os consumidores gastarem dinheiro de outras formas, levando a uma maior despesa com a alimentação. Contudo, de acordo com o inquérito aos consumidores, espera-se que esta tendência se inverta e que os consumidores gerem uma maior poupança em 2021 do que em 2020.

 

Terceira tendência: o online torna-se nuclear
A pandemia acelerou as vendas online de alimentos, uma tendência que se manterá num futuro próximo. Assim, ganhar quota de mercado sem ganhar no online torna-se cada vez mais difícil. Em mercados com maturidade digital, como o do Reino Unido, a Internet já representa mais de um terço do crescimento global do mercado alimentar.

Em 2020, o canal online cresceu 55% na Europa. Os retalhistas alimentares foram forçados a adaptar-se a um ritmo sem precedentes, não só para oferecer aos consumidores a entrega ao domicílio, mas também para oferecer uma maior variedade online, um acesso mais rápido e opções mais baratas. 50% dos consumidores que utilizaram os canais digitais durante a pandemia pretendem continuar a fazê-lo.

Em Portugal, contudo, a percentagem de consumidores que tem intenção de comprar mais produtos online é apenas 15%, sendo inferior a percentagem de consumidores que tenciona comprar menos (24%). A principal razão para consumidores portugueses não comprarem produtos online é preferência por contacto pessoal nas lojas (62% dos consumidores identificam esta como uma das principais razões para não comprar produtos online).

 

Quarta tendência: o regresso da restauração
Embora o hábito de comer fora de casa vá demorar algum tempo a voltar aos níveis pré-crise, o relatório indica uma forte recuperação assim que as restrições forem reduzidas, uma vez que as lojas alimentares perderão uma parte considerável dos respectivos lucros. Esta diminuição da procura de produtos alimentares em supermercados e outras superfícies de venda é amplamente esperada pelos executivos da indústria: 49% acreditam que a situação do mercado piorará em 2021 relativamente a 2020.

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