Redesenhar com eficiência ou improvisar com o caos: o dilema da robótica móvel

Imagine uma fábrica onde cada robô decide por si próprio como se movimentar, evitando obstáculos e seguindo rotas alternativas. Parece avançado, certo? Mas, o que acontece quando essa liberdade gera caos, interferências e perda de desempenho nos fluxos internos?

Durante décadas, os AGV (Veículos Guiados Automatizados) têm sido protagonistas silenciosos em fábricas e armazéns, movimentando-se com precisão em rotas predefinidas. A sua fiabilidade e simplicidade tornaram-nos numa solução ideal para ambientes onde a eficiência depende da repetição e da previsibilidade.

Com o avanço da inteligência artificial e a pressão para flexibilizar os processos, surgiram os AMR (Robôs Móveis Autónomos). Estes robôs trazem consigo algo mais: autonomia para decidir como se movimentar, desviar de obstáculos e adaptar-se ao ambiente em tempo real.

No entanto, esta capacidade de desviar obstáculos tornou-se um hype e um símbolo de modernidade que, em muitos casos, responde a um problema mal colocado. Em ambientes industriais bem concebidos, os obstáculos não deveriam existir. E, se surgirem, o ideal é eliminá-los ou redesenhar o fluxo, em vez de confiar que o robô os consiga desviar.

Os AGV, com as suas rotas fixas, permitem um planeamento preciso. Podem desenhar-se fluxos logísticos otimizados, sincronizar tarefas, evitar interferências e garantir a segurança. O seu comportamento é previsível, o que facilita a integração com outros sistemas e a melhoria contínua dos processos intralogísticos.

Por outro lado, os AMR, ao tomarem decisões em tempo real, podem gerar rotas variáveis, comportamentos inesperados e dificuldades em auditar ou melhorar o sistema. O que se ganha em flexibilidade, por vezes perde-se em controlo e eficiência.

Isto não significa que os AMR não tenham o seu lugar. Em ambientes dinâmicos, com alta variabilidade ou onde a interação com pessoas é constante, a sua capacidade de adaptação pode ser muito valiosa. Mas em muitas aplicações industriais, onde a estabilidade e a repetição são essenciais, os AGV continuam a ser a melhor opção.

A estratégia não está em saber se o robô evita obstáculos ou não, mas em desenhar um ambiente onde ele não tenha de o fazer. A escolha entre AGV e AMR não deve basear-se em tendências tecnológicas, mas numa compreensão profunda do processo e das necessidades reais de cada cliente.

Na robótica móvel, como em outras áreas, a solução mais avançada nem sempre é a mais adequada. Por vezes, o mais eficiente é o mais simples. E, em muitos casos, isso continua a ser um bom AGV.

 

David Cayuela Molinero, Head of Mobile Robots Jungheinrich Iberia

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