Planeador: Os desafios do Séc. XXI

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jorge santos silvaPlaneador: Os desafios do Séc. XXI

Jorge Santos Silva – Formador de Logística

O Planeador de que se fala neste artigo é o operacional ou gestor que, dentro da Cadeia de Abastecimento, tem a responsabilidade de controlar ou elaborar um plano de fluxo de materiais que permita à empresa atingir os objectivos definidos.

 

É óbvio que este Plano estará em consonância com os restantes Planos da empresa, i.e., Plano Financeiro, Plano de Marketing, Plano de Vendas, e será objecto de constrangimentos ou facilidades que terão influência directa nos recursos disponíveis, recursos esses que, por sua vez, condicionarão o Plano.

A elaboração de um Plano é habitualmente uma tarefa anual que ocorre entre Setembro e Outubro, exigindo um esforço suplementar do Planeador que deve continuar as suas tarefas diárias de fazer com que o Plano em vigor seja cumprido. E são os desafios de gerir todas as inúmeras variáveis que impactam um fluxo de abastecimento, que evoluíram de tal modo que os podemos dividir em “velhos” e “novos” desafios.

Considerando que um Plano de fluxo de materiais pretende optimizar o balanço entre a Oferta e a Procura, é fundamental conhecer uma e outra profundamente, e também ter uma ideia o mais aproximada possível do grau de incerteza de cada um destes dois componentes fundamentais. A adequação de todos os outros componentes, abastecimento, armazenagem, produção e distribuição, vai sempre depender da incerteza na Oferta e na Procura.

Pois os desafios do séc. XXI são novos porque resultam da transição da incerteza, do lado da Oferta para o lado da Procura. Até há 20/30 anos, a incerteza estava quase toda do lado da Oferta. Começando nos fornecedores pouco fiáveis, continuando por transportes morosos e acabando em fábricas pouco eficientes, a incerteza era ainda potenciada por comunicação deficiente ou morosa. Porém, nesses mesmos “bons tempos” a procura era razoavelmente estável, e essa estabilidade permitia colmatar a incerteza da Oferta com um remédio infalível: os stocks. O objectivo principal do Planeador do séc. XX era manter os stocks tão baixos quanto possível. Mais cedo ou mais tarde a Procura iria levá-los.

Entretanto, a modernização, a automação e sobretudo a extraordinária evolução das comunicações, foram gradualmente reduzindo a incerteza do lado da Oferta o que permitiu uma redução drástica dos stocks. E em boa hora o fez, porque a transferência da incerteza para o lado da Procura tornou os stocks um activo potencialmente “tóxico”.
Mas a transição da incerteza do lado da Oferta para o lado da Procura, além de retirar ao Planeador uma ferramenta paliativa, teve ainda duas consequências muito mais gravosas: retirou-lhe poder e acesso. Quando os problemas eram a montante, o Planeador era o “cliente” e boa parte do processo podia ser interno permitindo-lhe acesso directo à origem do problema. Quando a incerteza passou para jusante, o Planeador passou a ser “fornecedor” e deixou de ter acesso às causas ou factores de incerteza.

A comunicação, a negociação e a gestão de informação são os novos desafios do Planeador do séc. XXI.

 

Jorge Santos Silva – Formador de Logística

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