3 Lições sobre o trabalho em equipa que aprendi na tropa e que são extremamente úteis nas empresas

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3 Lições sobre o trabalho em equipa que aprendi na tropa e que são extremamente úteis nas empresas

 

 Elsa Soares | Técnica de RH |
 

É verdade, antes da minha experiência nos RH existiu uma aventura na minha vida chamada tropa. Estive 6 anos e meio no Exército e durante esse tempo nesta Instituição, aprendi algumas lições sobre o trabalho em equipa que se revelaram extremamente úteis e com aplicação prática nas empresas.

Estranho como dois mundos completamente diferentes podem ter paralelismos?! Não! Confira você mesmo.

1. Cumprir prazos…

Nunca esquecerei o meu primeiro dia de tropa e a primeira vez que vesti a farda. O nosso Tenente deu 10 minutos para o pelotão inteiro estar devidamente fardado à porta de uma das casernas. Mal ele deu a voz de “destroçar”, corri como uma louca para a caserna. Tirei rapidamente a roupa civil e vesti a farda. Olhei para o relógio: “Óptimo! Ainda faltam dois minutos!” Saí novamente a correr e quando cheguei ao local onde o Tenente esperava, percebi que não estava lá mais ninguém. Cheia de orgulho pensei “fui a primeira!”

– “Soares!!! O que é que você está aqui a fazer?!” – Perguntou o Tenente Ferreira. Respondi que me estava a apresentar, conforme ele tinha definido.

– “E onde estão as suas camaradas?!” – Perguntou ele.

– “As minhas camaradas ainda estão a fardar-se…”

– “Então, o que é que está aqui a fazer?!” – Perguntou ele novamente. “Vá ajudá-las!”

– “Mas, meu Tenente, assim também vou chegar atrasada…” – Respondi.

– “Se as suas camaradas ainda não estão prontas, você também não está! Vá ajudá-las e só me apareça aqui quando estiverem todas prontas!”

Virei costas desiludida e até contrariada. Como é possível que eu tenha conseguido fazer o que me pediu no tempo definido e ainda me tenha dado uma “rebocada”?!

Regressei à caserna e percebi: todas as minhas camaradas num frenesim para se conseguirem fardar. No meio da confusão, algumas já tinham perdido o par da bota, ainda não tinham conseguido prender o cabelo, havia roupa por todo o lado, os níveis de stress no pico… Quanto mais depressa, mais devagar – literalmente. Comecei a ajudar. Enquanto a rapariga que estava a ajudar amarrava o cabelo, eu apertava-lhe as botas. As outras que entretanto também já tinham conseguido fardar-se começaram a fazer o mesmo. No fim de contas, claro que chegámos atrasadas e corremos à volta da parada: uma volta por cada minuto de atraso. Mas ao fim de algumas tentativas, conseguimos chegar sempre a horas. Bastava ajudar quem demorasse mais tempo.

Se a equipa tem de cumprir um prazo e você está adiantado no seu trabalho, porque não ajudar o colega que está atrapalhado? Hoje é ele que precisa de ajuda, amanhã pode ser você! Estimule os elementos da sua equipa a ajudarem-se entre si quando necessário: isso diminuirá os níveis de stress e eles serão muito mais eficazes no cumprimento dos prazos!

2. Não culpabilize!

Consciencialize e partilhe conhecimento

A minha especialidade era Artilharia de Campanha (e esta, heim?), o que significa que “brincávamos” com Obuses (canhões modernos, no nosso caso ligeiros). Cada Obus tinha uma secção (equipa de trabalho) constituída por 5 elementos: S1 – Servente apontador; S2 – Servente da culatra; S3 – Servente municiador; S4 – Servente da granada e S5 – Servente “geral”.

Cada elemento tinha uma tarefa específica, todas elas essenciais. Se a equipa não funcionasse como um todo, não conseguíamos fazer o disparo. Existia a responsabilidade e consciência de que a cadeia poderia quebrar-se se não fizéssemos o nosso trabalho correctamente, no entanto, quando as coisas corriam menos bem, nunca perdíamos tempo a culpar o elemento que se atrasou na colocação da munição ou que se enganou na carga.

O único tempo que “perdíamos” era a dar “dicas” para melhorar a sua performance, já que os lugares na secção eram atribuídos pela antiguidade, o que significava que o S1 já tinha sido S2, o S2 já tinha sido S3, e assim sucessivamente. Resultado? O meu Regimento trazia sempre o troféu no Exercício Eficácia*.

Consciencialize os seus colaboradores da importância do seu trabalho, dê-lhes responsabilidade e fomente a partilha de conhecimento. Aplique estes princípios e sem dúvida melhorará o desempenho da sua equipa!

3. Crie uma relação de cooperação e confiança para alcançar um objectivo comum

As MARFOR’s… (Marchas Forçadas). Era terrível caminhar 10,15, 20Km’s em passo acelerado de botas, arma e mochila às costas no meio do monte. O objectivo era TODOS chegarem ao fim do percurso. Nem todos tinham a mesma resistência física e por isso alguns tinham muita dificuldade em completar a marcha, mas TODOS o faziam, TODOS chegavam JUNTOS ao fim. Como?!

Simples: camaradagem. Se a pessoa ao nosso lado já não aguentava mais, só havia uma coisa a fazer: pegar na arma e na mochila dele e se mesmo assim não fosse o suficiente, trazê-lo apoiado em nós, às costas, ao colo… O que fosse preciso!

“Ninguém fica para trás!” – Ouvia-se o Tenente a dizer.

E ninguém ficava mesmo para trás! Mesmo que tivéssemos de os “arrastar” ou vir carregados a dobrar. Os mais fortes ajudavam os mais fracos, os mais capazes eram solidários com os menos aptos. Existia um espírito de entreajuda que fazia tudo funcionar apesar das dificuldades. Saíamos sempre confiantes para este calvário porque sabíamos que se tivéssemos dificuldades alguém nos ajudaria. Demorávamos mais a chegar ao fim, mas éramos inundados por um enorme sentimento de concretização!

Moral da estória? Sozinhos vamos mais depressa, mas juntos vamos mais longe. Transpondo para a vida civil, a camaradagem não é mais do que solidariedade profissional. Ao definir um objectivo comum, explicite como o comportamento e contributo de todos é essencial e que vai fazer a diferença no resultado final. Incentive relações de cooperação e confiança entre as suas pessoas. Alie esta solidariedade à partilha de conhecimento e não só terá uma equipa vencedora como uma equipa que se sente realizada!

Estas são apenas 3 lições sobre o trabalho em equipa que aprendi na tropa e que se podem transpor para a vida civil nas empresas. Existem muitas outras… Mas ficarão para um próximo artigo!

* Exercício Eficácia é um exercício de fogo real de Artilharia de Campanha cujo objectivo é treinar os procedimentos tácticos e técnicos da execução de tiro. Um desses procedimentos, denominado “eficácia” consiste em atingir 5 alvos diferentes com apenas 5 munições (uma munição para cada alvo). A equipa vencedora é aquela que consegue no mínimo tempo possível atingir os 5 alvos eficazmente (inutilizando-os) com as 5 munições disponíveis para essa missão de tiro.

Elsa Soares | Técnica de RH |

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