Impacto da Crise do Mar Vermelho nos custos do transporte marítimo

O armador Francês CMA CGM anunciou esta semana que vai deixar de navegar pelo Mar Vermelho “até nova ordem”, depois de um dos seus navios ter sido alvo de um ataque de mísseis Houthi – o que significa que as taxas spot da CMA CGM podem vir a aumentar.

A posição anterior da CMA CGM de continuar a fazer a rota do Mar Vermelho (em parte devido ao facto de os seus navios serem escoltados pela Marinha francesa) contrastava com a de outras grandes empresas de navegação que já tinham suspendido os trânsitos.

Devido ao facto de a CMA CGM ter continuado a transitar pelo Canal do Suez, as suas taxas spot mantiveram-se abaixo da média do mercado. De facto, as taxas spot da CMA CGM eram de USD 4010 por FEU (forty-foot equivalent unit) em 7 de fevereiro, ou seja, USD 550 abaixo da média do mercado.

Peter Sand, Analista Chefe da Xeneta – uma empresa de análise de dados dos mercados de carga marítima e aérea, declarou: “A CMA CGM tem sido capaz de oferecer preços mais baixos aos seus clientes ao longo desta crise porque continuou a transitar pelo Canal do Suez. A questão que se coloca agora é se irão aumentar os preços para igualar a média do mercado. Os carregadores que escolheram a CMA CGM durante a crise podem ter poupado entre 500 e 1000 dólares por contentor, pelo que a subida dos preços poderá ter implicações financeiras significativas.” No entanto, afirmou que se tem também de “considerar que, para além de os preços da CMA CGM subirem, a média do mercado pode descer, o que também causaria um estreitamento entre estas taxas”.

Na quarta-feira (31 de janeiro), os dados da Xeneta revelavam que as taxas de frete marítimo do Extremo Oriente para a Europa podem já ter atingido o seu pico durante a crise do Mar Vermelho. Isto poderá fazer com que as taxas caiam mais cedo do que o previsto em fevereiro? E o que é que vai acontecer com as transacções do Extremo Oriente para os EUA? O analista-chefe Peter Sand e a analista de mercado Emily Stausbøll falaram com a CNBC para se debruçarem um pouco mais sobre os últimos movimentos do mercado e darem a sua opinião.

Segundo Emily Stausbøll: “Com base no facto de os aumentos gerais das taxas em fevereiro estarem abaixo dos níveis previstos, os transportadores foram forçados a negociar em baixa com os carregadores. Por sua vez Peter Sand afirmou: “Vemos diferenças entre a forma como os transitários e os transportadores marítimos tratam os seus maiores clientes, porque o poder nunca esteve realmente fora das mãos destes expedidores de volumes extremamente grandes.”
Entrevista completa com Lori Ann LaRocco, da CNBC, aqui.

 

Os preços do transporte marítimo de mercadorias já atingiram o seu máximo durante a crise do Mar Vermelho?

Os carregadores têm vindo a desconfiar cada vez mais das empresas de navegação que tentam manter as taxas elevadas durante o máximo de tempo possível durante a crise do Mar Vermelho e os últimos dados da Xeneta sugerem que estas estão agora a recuar.

Os últimos dados conhecidos apontam para que as taxas médias de curto prazo do Extremo Oriente para o Mediterrâneo deverão aumentar do nível a que estavam no fim de janeiro de 5750 USD por FEU para 5950 USD ao abrigo das GRIs (General Rate Increase) de fevereiro. No entanto, esta taxa, mesmo que se mantenha, continua a ser inferior ao pico de 6050 USD registado em 16 de janeiro.

A situação é semelhante no comércio entre o Extremo Oriente e o Norte da Europa, prevendo-se que as taxas aumentem do nível de 4730 dólares por FEU (fim de janeiro) para 4820 dólares no início de fevereiro – mais uma vez, este valor é inferior ao pico de 4850 dólares de 16 de janeiro.

Peter Sand afirmou “Todos estão a acusar todos neste momento, o que é normal em situações de grande incerteza no mercado. Os transportadores marítimos de mercadorias não inventaram esta crise e levam tempo a criar novas redes de transporte para fazer face às perturbações causadas pelo desvio do Canal do Suez. No entanto, isto também pode ser visto do ponto de vista dos carregadores, que podem considerar os aumentos das taxas como uma ação oportunista dos transportadores para maximizar o dinheiro que podem ganhar”.

Embora a situação permaneça volátil e sujeita a alterações, os dados recentemente divulgados são a melhor indicação do rumo que o mercado está a tomar. Isto é demonstrado pelo facto de os GRIs de fevereiro se situarem abaixo do nível anteriormente previsto, o que sugere que os transportadores foram forçados a negociar em baixa.

Emily Stausbøll, na entrevista já referida acrescentou: “Os carregadores aceitaram, em geral, o argumento dos transportadores de que é preciso tempo para reagir a uma crise tão inesperada, mas parece agora que alguns carregadores estão a resistir e a conseguir acordar taxas mais baixas. Assim, é possível que as taxas comecem a estabilizar ou a baixar mais cedo do que muitos previram no início de fevereiro. “No entanto, o mínimo de mercado – as tarifas mais baratas que os carregadores estão a pagar – deverá aumentar de 2940 (USD) por FEU em finais de janeiro para 4840 (USD) em fevereiro. Com os carregadores maiores e de grandes volumes a tenderem a ocupar a parte mais baixa do mercado, esta é uma boa notícia para os transportadores e pode mesmo aumentar o seu volume global de receitas”.

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