Caminhar num corredor (Atlântico) cheio de curvas e rampas

Na semana passada tive o privilégio de ser convidado como orador na SOUTHERN EUROPE MULTIMODAL SUMMIT “CURRENT CHALLENGES OF MULTIMODALITY” em Madrid, nas mesas redondas ‘Infrastructures for the development of Multimodality’ e ‘The role of the associations and the European Combined Transport Directive’.

Em primeiro lugar referir que Portugal precisa mesmo, mas mesmo de desenvolver a sua estratégia para a intermodalidade, e em minha opinião assente no corredor Atlântico. Já há uns tempos escrevi sobre este assunto e depois deste Summit fiquei com a certeza de que Espanha está num caminho mais certo, relativamente ao tema dos corredores ferroviários Europeus.

Espanha estruturou um departamento “Oficina del Comisionado del Corredor Atlántico”, em que um Comissário se dedica a impulsionar e desenvolver a infraestrutura e os serviços ferroviários no referido corredor. Ora tenho cá para mim que o Corredor Atlãntico até começa em Portugal e não vislumbro nada semelhante ca do nosso lado.

Este comissário junta à mesa Terminais, Portos, Portos Secos, Empresas, Aeroportos, Acessibilidades, Entidades e Institutos onde definem e desenham estratégias para desenvolver sinergias e todos falarem uma mesma linguagem com a intenção de atingir um único objectivo – a Descarbonização do transporte, com uma aposta muito clara no transporte Combinado/Intermodal e Multimodal. Desta forma todos os players desenham uma estratégia logística que sirva as empresas, com o apoio da tutela e restantes entidades, que se envolvem, que envolvem parceiros e que se comprometem em comum.

É por esta altura que se trabalha a nível europeu numa nova diretiva sobre o transporte combinado. É interessante perceber que todos estes conceitos – Combinado/Intermodal e Multimodal, poderiam e deviam ser revistos atendendo às realidades, particularidades e singularidades de cada país. Atualmente todo o transporte Combinado é Intermodal, mas nem todo o transporte Intermodal é Combinado. Mais um momento que não devia ser desperdiçado.

O caminho, já não é de opção entre sustentabilidade ou crescimento, mas sim de juntar ambos no espaço das políticas estratégicas nacionais. Diria mesmo que um crescimento sustentável tem de assentar numa rápida, mas hábil transferência modal. O Governo português tem uma mensagem acerca da descarbonização nas políticas públicas de transporte. “… o envolvimento dos parceiros intersetoriais na estratégia é fundamental para promover uma transferência modal para meios mais sustentáveis, nomeadamente a ferrovia, contribuindo para uma descarbonização da rodovia e portos…”

Mais uma vez e em minha opinião parece ser este o caminho certo, mas, também, mais uma vez, parece que o objectivo está claro, mas a estratégia para lá chegar não é dita, nem na configuração, nem no formato. O 5º modo de transporte [intermodalidade], como eu lhe chamo, é em minha opinião a única forma para lá chegar. A intermodalidade, quando bem suportada por infraestruturas modernas e interoperáveis, permite-nos potenciar os nossos portos – como portas atlânticas da Europa – e garantir que as mercadorias que aqui chegam têm continuidade logística fluída até ao coração do continente, com Espanha como parceiro estratégico natural neste percurso. Mas para que esta visão se concretize, é indispensável um compromisso sério com o investimento em infraestruturas: terminais intermodais, linhas ferroviárias eletrificadas e compatíveis com os padrões europeus, zonas logísticas bem equipadas e digitalmente conectadas. Trata-se de criar as condições para que a logística não seja um fator de custo, mas sim um elemento de valor acrescentado na competitividade das nossas empresas.

A Europa definiu a meta, mas não definiu o processo de diminuir as emissões de CO2 nos transportes em 50% até 2050. Isto não basta dizer o que se quer, é preciso dizer como fazer o que se quer. Portugal precisa, como nunca de definir como vai atingir estas metas, mas para isso tem que primeiro definir o caminho para chegar à meta.

Vamos ser claros: a aposta na multimodalidade e intermodalidade não é uma opção futurista – é uma necessidade atual. E Portugal, ao posicionar-se estrategicamente ao lado de Espanha, pode e deve liderar este movimento de modernização logística na Península Ibérica. A APAT será, sempre, um parceiro activo e influente neste processo.

Termino, referindo que a APAT é voz ativa no imperativo da Multimodalidade e Intermodalidade.

Ou então, andamos às voltas, nas voltas que a vida dá, e se tu voltas, eu não prometo voltar a olhar para aquilo que não conseguimos aproveitar. Já nem penso onde poderíamos estar.

 

Antonio Nabo Martins                                                                                                                                                                                    Presidente Executivo APAT

Written by