Têxteis e vestuário na Zona Euro: Quebra de facturação poderá chegar aos 19% em 2020

O volume de negócios da indústria têxtil e de vestuário na Zona Euro deverá registar uma quebra de -19% em 2020, o que poderá levar a que cerca de 158 mil postos de trabalho e 13 mil empresas possam desaparecer até ao final de 2021, estima a Euler Hermes, accionista da COSEC – Companhia de Seguro de Créditos.

De acordo com o estudo “Bruised but not beaten, Europe’s textile industry is a perfect candidate for a greener and digital recovery”, recentemente publicado, está em causa 8% do total do emprego criado por este sector e 6% das suas empresas, num contexto em que o PIB das economias da Zona Euro vai registar uma quebra de -9%. O facto de a indústria têxtil e de vestuário ter o dobro da prevalência de Pequenas e Médias Empresas (PME) em relação à média verificada na indústria fabril torna este sector mais vulnerável a contextos de crise.

Tal como outros países europeus, Portugal assistiu a uma perturbação substancial nas actividades de retalho e de fabrico, na sequência do surto de Covid-19. Estima-se que Portugal registou uma quebra de -19% no volume de negócios entre Janeiro e Maio de 2020 em comparação com o período homólogo do ano passado. As perspectivas para 2020 continuam sombrias devido ao baixo interesse dos consumidores, mas prevê-se que o crescimento volte a recuperar a partir de 2021.

Os economistas da Euler Hermes indicam que Portugal é um país secundário mas significativo na indústria têxtil, representando cerca de 7% do volume de negócios da indústria europeia. Cerca de 16 mil empresas operam neste sector no país, o que corresponde a um total de 180 mil postos de trabalho. O volume de negócios da indústria tem vindo a registar um «crescimento saudável» nos últimos anos, crescendo cerca de 10% entre 2010 e 2019. As exportações têxteis representaram 12% do total das exportações portuguesas no ano passado.

 

Itália mais afectada

Este estudo estima que, na Zona Euro, a Itália tenha o declínio mais acentuado até ao final do ano (-22%), devido a um primeiro trimestre conturbado e a uma exposição comparativamente maior às demais economias em relação ao mercado retalhista do vestuário. As vendas perdidas durante o confinamento, estimam os economistas, «dificilmente serão compensadas ao longo do ano e o aumento do desemprego em toda a Europa pesará nas compras de vestuário».

Por outro lado, o estudo estima que a Alemanha terá melhores resultados pelas razões exactamente opostas, ou seja, um início do ano menos dramático e uma menor exposição ao mercado retalhista da moda. Os fabricantes alemães deverão ver o volume de negócios diminuir em -11% em 2020. Já a França estará numa situação intermédia, com um impacto de -17% em 2020, indicam os analistas.

 

Sustentabilidade: Pode ser a solução

Os economistas da Euler Hermes acreditam que a implementação de medidas destinadas a acelerar as várias iniciativas da indústria para reduzir a sua pegada ambiental poderá favorecer os fabricantes europeus que alinhem os seus interesses empresariais com as metas ambientais da Comissão Europeia. Neste sentido, os analistas consideram que a recuperação pode passar pelo investimento em qualidade em detrimento da quantidade, contornando lógicas de ‘fast-fashion’.

Estima-se que a produção têxtil gere cerca de 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa. «Esta indústria é também uma grande consumidora de recursos hídricos, e estima-se que 73% de toda a produção têxtil seja incinerada ou depositada em aterro».

Segundo os analistas, entre 2000 e 2015, a utilização média de vestuário (o número médio de vezes que uma peça de vestuário é usada) diminuiu cerca de 35%, enquanto os volumes globais vendidos duplicaram, atingindo mais de 100 mil milhões de artigos por ano, evidenciando a crescente proeminência da ‘fast-fashion’. Ao analisarem o volume de vendas a retalho do sector dos têxteis e vestuário em lojas especializadas e a população ao longo do tempo, os economistas verificaram que o consumo cresceu mais de +25% na Europa, com a França (+31%) e o Reino Unido (+87%) a registarem os aumentos mais significativos desde 2000.

O estudo revela ainda que a adopção de novas tecnologias também poderá ser benéfica para a indústria, uma vez que as PME representam grande parte do sector e não têm necessariamente capacidade de desenvolverem programas de Investigação e Desenvolvimento (I&D) dispendiosos. «Ao ter em conta o impacto das medidas de confinamento no comércio retalhista e a lenta recuperação nas viagens internacionais, o apoio ao desenvolvimento do e-commerce pode também ajudar os fabricantes a aumentar o seu alcance e a mitigar os seus riscos», conclui o estudo.

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