Terminal Multimodal da Bobadela

A APAT dirigiu uma carta à tutela relativamente à situação do Terminal Multimodal da Bobadela que passamos a mencionar:
“O Terminal Ferroviário, ou Multimodal da Bobadela é sem dúvida nenhuma o melhor que existe em Portugal, porque para além de servir a cidade de Lisboa, serve igualmente os Portos de Sines, Lisboa e Leixões permitindo que estes alarguem o seu hinterland e ao mesmo tempo permitem o tão almejado modal-Shift retirando camiões da estrada e tornando o transporte de mercadorias mais amigo do ambiente.
A RTE – Rede Transeuropeia de Transportes é o sistema organizador das infraestruturas de transportes e da mobilidade de pessoas e bens no espaço europeu. Nesta rede, Lisboa é porto principal (Core) do chamado Corredor Atlântico, o qual liga Portugal, Espanha, França e Alemanha. A sua integração contempla a via marítima, fluvial, ferroviária, rodoviária, plataformas de 1ª linha (terminais portuários) e plataformas logísticas de 2ª linha (Poceirão). De igual forma sabemos que no Poceirão não existe plataforma alguma e seguramente todos sabemos que a Bobadela tem desempenhado esse papel, nomeadamente naquilo que diz respeito ao porto de Lisboa, tanto ao posicionar-se como bufferou depôt e ainda como estrutura de apoio à manutenção, limpeza e reparação de contentores.

Notamos que:
a) A Acessibilidade ferroviária ao porto de Lisboa (Alcântara) é feita via Linha de Cintura e através do atravessamento da Avenida 24 de Julho, e Linha de Cascais, que só pode ocorrer fora da chamada “hora de ponta”. A Bobadela representa assim uma alternativa à movimentação de contentores por via rodoviária até aqui, para depois seguir por comboio.
b) De igual modo tem representado praticamente o mesmo para o porto de Sines uma vez que se aponta como o Porto Seco de Sines para a região de Lisboa.
c) Atualmente recebe/expede três comboios diários, com cerca de 60 (360 diários) teus, para Sines e sensivelmente cerca de um comboio diário com a mesma capacidade para Alcântara, assim como apoio à movimentação de várias dezenas de contentores da Extremadura Espanhola e ainda para as Ilhas da Madeira e dos Açores. O Complexo da Bobadela, associado a outros Parques de contentores, representa uma área de cerca de 400 000m2 desta área de Lisboa e nomeadamente do Concelho de Loures.
d) Sem o Complexo da Bobadela, deixa de existir uma plataforma multimodal junto da maior cidade do País e seja onde for que vier a ser a nova plataforma, vai representar custos adicionais para o consumidor final de Lisboa e das Ilhas, bem como ainda a disrupção da cadeia que está montada com a Extremadura Espanhola, retirando assim carga aos Portos Portugueses.
Com a decisão do Conselho de Ministros. a nossa expetativa era ficar a saber de uma eventual alternativa, que segundo sabemos ainda não está avaliada, nem tão pouco pensada. O Poceirão não servirá para servir a margem Norte, a Plataforma Logística Norte de Lisboa (Carregado) não aparenta ter capacidade de receção para tantos contentores. Sabe-se que o Complexo da Bobadela será descontinuado faseadamente, mas até 2026 deverá estar completamente limpo de contentores. Em 2022 deverá estar encerrada a zona Sul e Centro, restando assim quatro anos para a atividade. Esta é a expetativa de todos os players, clientes e consumidores finais.A especulação existente é novamente acerca das concessões dos vários Terminais do Complexo. O modelo que se adotou para a Bobadela teve o efeito atual, ou seja, quando já chegaram a estar quatro parques instalados e todos a funcionar de forma eficiente, hoje apenas temos um que funciona eficientemente, pois por razões várias os outros não estão capacitados ou habilitados a funcionar. Ou seja, deixou de haver concorrência.

Recomendamos que:
A preocupação da APAT não se relaciona com a gestão dos parques, mas sim com a questões de concorrência, eficiência, equidade e preço, sendo certo que sabemos de antemão que quem vai ter de suportar os custos adicionais, que seguramente vão existir, é o consumidor final, entendemos oportuno recomendar que:
• seja quanto antes divulgado modelo de concessão ou concurso para o parque (Norte) que ficará a trabalhar entre 2022 e 2026;
• se apresente a localização da plataforma alternativa, que garanta no mínimo condições iguais às proporcionadas pela Bobadela e sobretudo não onerando o mercado com custos adicionais.
• para a localização da nova plataforma sejam considerados e se apurem os impactos nos custos logísticos para as regiões da Grande Lisboa, Oeste e Regiões autónomas da Madeira e Açores. Temos ainda uma preocupação adicional nomeadamente quando analisamos e avaliamos os tráfegos de curta distância, onde o custo dos serviços de first e last mile, têm um peso significativo no custo total da solução de transporte. Ao serem agravados com a deslocalização da Bobadela, significará aumentos diretos consideráveis, nomeadamente no abastecimento às ilhas, que será obviamente suportado pelas economias insulares.

Concluindo
Adicionalmente e no presente momento a cadeia do transporte marítimo ainda apresenta inúmeros problemas, nomeadamente ao nível do preço, da qualidade de serviço, na disponibilidade de equipamento e espaço para escoar as nossas mercadorias e, sem solução à vista.
Entendemos ser demasiado penalizador pressionar ainda mais esta cadeia, com dificuldades acrescidas nas acessibilidades, parqueamento e manutenção destes equipamentos, adicionando custos e tempos que provavelmente irão onerar os transportes em várias centenas de euros.
Fazemos ainda notar que a aposta nacional no transporte de mercadorias por via ferroviária tem sido enaltecida, promovida e, têm sido diligenciados muitos recursos para que esta vontade da Tutela seja uma realidade. Em nosso entendimento esta é uma decisão absolutamente oposta a esse desígnio, pois não há comboios sem carga e não haverá carga sem infraestruturas eficientes e competitivas.
A APAT enquanto entidade independente, isenta e autónoma, reitera novamente toda a disponibilidade para ajudar a encontrar soluções alternativas, que sirvam todos os players do processo logístico sem exceção, e que minimizem estes impactos de forma que não sejam ainda mais penalizadores dos que os sentidos pela Covid – 19.”

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