Os cliques e a logística

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anagomesOs cliques e a logística

Ana Gomes – Diretora de Industrial e Terrenos da Cushman & Wakefield em Portugal

De acordo com vários estudos publicados, esta vai ser a década do comércio eletrónico (CE). Ainda com pouca expressão em Portugal, em comparação com outros países, o CE está a crescer e a provocar uma autêntica revolução com um efeito muito positivo sobre a logística e, naturalmente também, sobre a ocupação de espaço.

 

O CE surgiu do conceito de comodidade de comprar a partir de casa: sem ter de ir à loja, sem necessidade de procurar estacionamento, sem fila para pagar. Era só clicar e esperar pela encomenda. Hoje, já não é assim. O comprador online está mais exigente, possui tecnologia inovadora e em constante atualização, não quer assumir custos de envio e sabe, em cada momento, onde está a sua encomenda e quanto tempo ainda demora até lhe chegar às mãos. Já não estamos a falar apenas em entregar encomendas mas sim em entregar um leque mais variado de produtos num curto prazo e com o preço que o cliente quer. Esta evolução constitui um desafio crescente para todas as partes envolvidas e representa mudanças significativas na cadeia de abastecimento e na utilização do espaço.

O CE apresenta três grandes desafios à forma como a logística e o retalho têm funcionado. Por um lado, os fabricantes estão cada vez mais conscientes que os seus produtos devem estar mais próximos dos consumidores finais obrigando a uma maior cooperação com retalhistas para reduzir custo e tempo de transporte. Por seu lado, os retalhistas têm de reduzir custos, praticar preços mais competitivos e dar a melhor resposta possível aos consumidores tanto em termos de oferta variada de produtos como em termos de rapidez de entrega. Vamos assim assistir à crescente transferência de atividades tradicionais de retalho das lojas para os armazéns, à localização de centros logísticos mais próximos dos centros urbanos e dos consumidores finais, à manipulação, embalagem e distribuição de um maior número de volumes mais pequenos e ao aumento do número de pessoas a trabalhar nos armazéns. A logística vai desempenhar um papel ainda mais crucial na satisfação dos consumidores finais e vai provavelmente ser um motor de desenvolvimento económico importante para localizações secundárias que até hoje estiveram mais afastadas das grandes redes europeias e mundiais de abastecimento.

Para Portugal, esta tendência é uma oportunidade para o crescimento da logística e para o aumento da procura de espaço, não só na distribuição alimentar, de livros e eletrónica, mas também nas áreas industriais onde sempre fomos fortes e onde podemos ter uma palavra a dizer na logística internacional – a moda e o calçado.

Março 2015

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