Consequências possíveis para as supply chains do conflito na Ucrânia

A bolsa dos EUA anda a ser afectada há duas semanas consecutivas por causa dos acontecimentos na Ucrânia, com o Nasdaq a desvalorizar 2,6% e o Dow a cair 540 pontos. Embora este facto não possa ser apenas imputado ao presente conflito, uma vez que a subida das taxas de juro, mais cedo do que o esperado, pela Reserva Federal é vista como uma grande razão para a venda, a verdade é que os constantes rumores de guerra também têm contribuído para as perdas. As subidas nas taxas de juro podem ajudar à subida da inflacção e esta pode ser ainda mais impulsionada pela escassez de mercadorias.

Embora a Rússia negue ter planos para atacar a Ucrânia, as tensões entre a Rússia e a Ucrânia aumentaram nos últimos meses, à medida que a Rússia foi acumulando tropas ao longo da sua fronteira comum. Estando estrategicamente localizada entre a Rússia e o resto da Europa, a possibilidade da Ucrânia aderir à UE e de se tornar membro da NATO, foi sempre recebida com forte oposição da Rússia, oposição que data de 2014, aquando da anexação da Crimeia pela Rússia.

 

Problemas esperados

Quando parecia que o problema da escassez de chips estava a ser resolvido, é agora cada vez mais possível que a escassez global de semicondutores se prolongue provavelmente até ao próximo ano. A Rússia e a Ucrânia têm um elevado impacto em alguns dos principais mercados de mercadorias – alguns essenciais para a criação de semicondutores. A Ucrânia por exemplo é um dos principais exportadores de gás néon altamente purificado, que é necessário para a produção de chips.

A Rússia, por outro lado, é o maior exportador mundial de gás natural e trigo, o segundo maior exportador de petróleo e o maior exportador de metais como alumínio, cobre e é o maior produtor mundial de paládio, que é essencial para muitos chips de memória e sensores.

O impacto nos mercados de alumínio é um dos mais fáceis de ver – os preços do alumínio têm subido cerca de 15% ao ano até à data, os maiores produtores, como a Alcoa, atingiram novos máximos esta semana. A própria Rússia é um grande produtor de alumínio, o país produziu cerca de 3,7 milhões de toneladas deste metal em 2021.

A Ucrânia é o quinto maior exportador de trigo do mundo. Ambos os países são também responsáveis por uma grande quota de mercado da produção global de trigo. A Rússia e a Ucrânia são responsáveis por um total de 113 milhões de toneladas métricas de trigo por ano.

A Rússia é um grande produtor de energia, produzindo cerca de 9 milhões de barris de crude por dia e cerca de 639 mil milhões de metros cúbicos de gás natural em 2021. A União Europeia depende da Rússia para cerca de um terço do seu abastecimento de gás, e as sanções que os EUA já adoptaram e podem vir a adoptar por causa do conflito podem perturbar esse abastecimento. O governo dos EUA tem mantido conversações com várias empresas internacionais de energia para conseguir encontrar alternativas para o fornecimento de gás natural à Europa, caso o conflito entre a Rússia e a Ucrânia perturbe o fornecimento russo.

 

Segurança das cadeias de abastecimento

A Rússia tem sido acusada repetidamente de realizar ataques informáticos e de ter perturbado a rede eléctrica ucraniana, tanto em 2015 como no ano seguinte, deixando centenas de milhares de ucranianos ao frio.

O software e os serviços informáticos representam cerca de 12% do valor das relações económicas entre empresas americanas e russas/ucranianas. A Reserva Federal estimou que as vítimas de ciberataques, que incluem empresas como a Maersk, Merck e FedEx, perderam um total de 7,3 mil milhões de dólares.

À medida que as empresas se esforçam por mitigar os riscos dos fornecedores, algumas das sugestões para enfrentar o problema incluem: mapear a dependência do ponto de vista da aquisição de matérias-primas; criar perfis de risco dos seus fornecedores; aumentar a cibersegurança; aumentar o inventário considerando a sua procura a curto e médio prazo; apoiar os seus fornecedores, bem como procurar alternativas.

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